Rosa Nocturna
Ei-te uma rosa e no espelho
Entre a sombra e o vermelho
Estranhaste o seu clarão
Agora só a debrua
A luz irreal da Lua
No vago da escuridão
Nela vi quanto dizias
Davas, rias, prometias
Vão murmúrio, vão rumor
Louca, louca esta existência
Tresloucada incandescência
Que o sangue lhe vinha pôr
E era tão intensa a vida
Que a fugaz rosa colhida
Já nem no espelho perdura
Faz-se rosa em desalento
Que a noite mesmo sem vento
Só de a tocar desfigura
Vão-lhe as pétalas caindo
À medida que fugindo
A Lua desaparece
E a manhã quando desperta
Já só vê a forma incerta
De uma réstia que estremece
Triste vida a que me afoite
A fazer de cada noite
Uma flor, uma quimera
Mas rosa, a rosa terás
Outra, outra e outra atrás
Da que morre à tua espera