História dos Passarinhos

Gildo De Freitas

Eu destinei um passeio
Domingo muito cedinho
Peguei o meu violão
E fui pra o mato sozinho
Descobri uma figueira
Com os galhos cheio de ninho
E passei a manhã inteira
Embaixo dessa figueira
Apreciando os passarinhos

Como eu tava achando lindo
O viver dos passarinhos
Se via perfeitamente
Vir com a fruta no biquinho
Se via quando eles davam
No bico do filhotinho
E eu ali estava entretido
Com o viver tão divertido
Da vida desses bichinhos

Depois veio o negro velho
E também trazia um negrinho
Esse tinha uma gaiola
E dentro dela um bichinho
Perguntei que bicho é este?
Diz ele este é um canarinho
Com este bicho que está aqui
Nas florestas por aí
Eu caço qualquer passarinho

Cantava que redobrava
Aquele pobre bichinho
Parece até que dizia
É triste eu viver sozinho
Só porque eu fui procurar
Comida pra os filhotinhos
E fui tirar desse alçapão
Hoje eu estou nesta prisão
E nunca mais fui no meu ninho

Aí eu fui recordando
O que já me aconteceu
Há muitos anos atrás
Que a policia me prendeu
O juiz me condenou
E depois de mim se esqueceu
E eu, pelo rádio, escutava
Quando os colegas cantava
E aquilo me comoveu

Então eu fui perguntando
Quanto quer pelo bichinho?
Respondeu ele eu não vendo
Eu cacei pra o meu filhinho
Porém saiu uma voz
Da boca do gurizinho
E a gaiola custou dez
Quem me der vinte mirréis
Pode levar o passarinho

Comprei com gaiola e tudo
Para evitar discussão
E fui abrindo a portinha
E abrindo meu coração
E o bichinho foi saindo
E eu peguei meu violão
Num versinho eu fui dizendo
O que tu estava sofrendo
Eu já sofri na prisão

Quem vai caçar de gaiola
Pra ver os bichos na grade
Deveria ser punidos
Pelas mesma autoridade
Porque o coração dos bicho
Também conserva amizade
Ô lei, tu faça o que puder
Mas os bichos também querem
Ter a mesma liberdade

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