Ray Ban

Bruno Caliman

Acordaram brigando na cama, outro dia assim se repete
No café discutiram as dividas e os juros sobre o cheque
E ela disse "você é um inútil, então faça alguma coisa que preste"
Me leva logo pro escritório e deixa o Júnior na creche

No caminho alguém bate no vidro do carro e ele solta o breque
Ladrão? Não, só um vendedor de chiclete, maldito
Depois ele a deixa no centro, sem ao menos um tchau se despedem
E segue apressado
Preocupado com a bronca do chefe

Pra onde nós estamos indo?
Se não sabemos aonde estamos

Pra onde nós estamos indo?
Se não sabemos onde estamos

Chegou no trabalho atrasado
No paletó o suor do estresse
Três horas depois, fracasso, ninguém caiu no seu blefe
Cansado saiu pra fumar e de longe ele percebe
O vidro do seu carro quebrado
Roubaram o meu Ray Ban, mas que peste

Chegou perguntando para o guarda "e aí, já pegaram o pivete?"
O guarda então revelou "foi um vendedor de chiclete"
Ah, mas tinha que ser, essa raça nasce feito lebre
E aí já pegaram, já desceram o cassetete

Pra onde nós estamos indo?
Se não sabemos aonde estamos

Pra onde nós estamos indo?
Se não sabemos aonde estamos

O guarda então revelou "não foi um assalto, olha aí, não percebe?
Ele quebrou o vidro do seu carro pra salvar
O seu filho daí, reze"
Então, sentiu o asfalto gelando seus pés como neve
E o ar lhe escapou dos pulmões de um jeito que ele não esquece

Então acordou na garagem conferindo malas e estepe
A esposa saiu do escritório
Sem ao menos dar "até breve"
Decidiram por uma vida mais simples
E uma estrada mais leve
E o menino no banco detrás fazendo bola de chiclete

E o menino no banco detrás fazendo bola de chiclete
E o menino no banco detrás

Pra onde nós estamos indo?
Se não sabemos aonde estamos

Pra onde nós estamos indo?
Se não sabemos aonde estamos

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