SOBRAS

Cezar Gilcevi

amor, essa palavra-entranha
que se aloja e faz cair a máscara
estação que me incendeia as asas
veste de riso o sangue das chagas
se me alcança essa beleza amarga
o vinho arranha as grades da alma
se me alcança essa beleza amarga
morro de novo pela madrugada
são sobras e restos
vestígios de alguém
que ontem eu amei
que ontem eu inventei
e minha dor despedaça as vidraças
e de mim se esquiva a hora delicada
e lá, onde as flores estão adiadas
nossas sombras seguem de mãos dadas
mas se me elejo em tudo o que te lembra
sem morada pronuncio a sentença:
na memória do corpo eu te esqueça
e de novo eu me pertença
são sobras e restos
vestígios de alguém
que ontem eu amei
que ontem eu inventei

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