Vida de Carreiro

Agostinho R / Olavo Honório

Idade de quinze anos muita lembrança me dá
Carro de boi no areião eu gostava de escutar
Seu cantar entristecido a boiada devagar
Eu já éra candieiro este fato eu vou explicar
Os gemidos dos cocão fazia boi cuchilar
Pra fazer todo transporte passava em qualquer lugar
Com a vara de ferrão fazia boi encostar
Quando éra perigosa a serra pra atravessar
Eles eram todos mestres facinho de dominar
Esta vida de carreiro ficou na estória pra contar
Mas pra mim ficou distante precisei abandonar
Os anos vão se passando e os carros foram desprezados
Está tudo modificado precisamos conformar
Que as estradas pra cidade governo mandou asfaltar
E já é até proibido criação nelas passar
Quando chega a tardezinha já quase no sol entrar
Sento na porta do rancho e vejo o meu gado pastar
Um bando de marrequinho nos ares atravessar
Logo a lua vem surgindo e o sertão pega a clarear
Nas noites de lua cheia saudade vem me judiar
Se a noite é calorosa eu espero refrescar
Eu já faço a minha prece na rede vou descançar
Com esperança de outro dia com saúde levantar
Pra seguir com meus trabalhos e os apuros eu não passar
Eu planto e faço negócio pra aumentar meus capitais

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