De Qualquer Maneira

Ary Barroso 1933 / Noel Rosa

Quem tudo olha quase nada enxerga
Quem não quebra se enverga
A favor do vento
Eu não sou perfeito
Sei que tenho de pecar
Mas arranjo sempre um jeito
De me desculpar

Eu lá na Penha agora vou estifa¹
Mas não vou como um cafifa²
Quem foi lá desacatar
Mas a força falha
Ele teve um triste fim
Agredido a navalha
Na porta de um botequim

Pra ver a minha santa padroeira
Eu vou à Penha
De qualquer maneira...

Faz hoje um mês que fui naquele morro
E a Juju pediu socorro
Lá da ribanceira
Toda machucada
Saturada de pancada
Que apanhou do seu mulato
Por contar boato

Meu coração bateu a toda pressa
E eu fiz uma promessa
Pra mulata não morrer...
Pela padroeira
Ela foi bem contemplada
Levantou do chão curada
Saiu sambando fagueira

Eu vou à Penha de qualquer maneira
Pois não é por brincadeira
Que se faz promessa
E o tal mulado
Para não entrar na lenha
Fez comigo um contrato
Pra sumir da Penha

Quem faz acordo não tem inimigo
A mulata vai comigo
Carregando o violão
E com devoção
Junto à santa milagrosa
Vai cantar meu samba prosa
Numa primeira audição

¹ Gíria da época: alinhado, bem-vestido.
² Gíria da época: sujeito sem sorte.

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