Caboclo Nato
De um certo tempo pra cá me tornei um homem chato
Se escuto algum desaforo, já xingo o cara no ato
Perdi a calma que eu tinha depois que saí do mato
Hoje eu moro na cidade, só recebendo maus tratos
Num barraco apertadinho cheio de pulga e de rato
No sítio que eu morava tudo era mais barato
Fazia minha comprinha na venda do Honorato
Andava de qualquer jeito e nem usava sapato
Meu pé era esparramado igualzinho pé de pato
Mais eu me achava bonito até pra tirar retrato
Quando eu me lembro da roça me aborreço de imediato
Até parece que escuto o chorinho de regato
Meu cavalinho Feitiço encheu-se de carrapato
Meu cachorrinho vaqueiro, ligeiro igual um gato
Nunca mais festejou, êta mundão velho ingrato
Adeus, minha espingardinha do meu tempinho pacato
Eu moro aqui na cidade, mas sou um caboclo nato
Não posso voltar pra roça, já perdi o meu mandato
Quando a nossa idade chega, a morte é mesmo um fato
Espero o final da vida seguro num sindicato