Causa Mor
Nasce uma flor, varia na cor
Mas é incolor para o criador
Uma criação sem força de ação
Fraco coração mas má criação
Virá com o tempo representado
Pela areia na ampulheta
Como discurso troca de lado
Sendo moldado mais que a silhueta
Entre sair da arena ou arar a terra
Pra fazer brotar em campo de guerra
Nesse mar de gente sem guelra que ajude
Quem ama o deseja mesmo em área rude
Rude como a cultura que entra na mente por exposição
Sem a permissão se fixará como um alicerce pra invocação
De cada argumento
Se ele for feito de barro ficamos na lama
Mas se os pilares são feitos de ouro sobre o tesouro quem cuspirá drama
E é isso que nos educa, sempre preso à muvuca
Mesma que o anjo segue e o demônio cutuca o cordeiro com vara curta
Tudo em longo prazo
Pra experimentar os de dez, sete, cinco anos em caso mais extremo
Pega o menos imune
Mostra o que há de pior, tudo é questão de costume
Produzido com o tempo de quem tá a mercê
Do meio ambiente, crianças como você e como eu
Eles querem correr, querem crescer
Poder pegar os doces no alto da prateleira
São iguais a você, iguais a mim
Inocência mirim, a minha causa primeira
São corpos de poucos anos, transportam tanto calo
Na alma, palma, poeira e pureza vão pelo ralo
Cada vez que retornam da rua que nos reformam
Com kit de lei e vícios, edifícios que adornam
O sonho que é exposto e a distância e é imposto
De perto de pai pra filho mas culpa não tem rosto
Todos tem sua porção na invenção desse portfólio
Do universo da compra que fica aí de espólio
Pros nossos pequenos, se o dólar vale menos eles sabem
Assisto o enterro de nossos ingênuos
Que aprendem, fazem, atacam, defendem
Cumpram a cerimônia que de nós não mais dependem
Irmão cuidando de irmão, tem
Criança pedindo esmola, tem
Que prefere campo a colégio, tem
Pensando que crime é remédio, também
Fato é que educação não tem nada a ver com uma sala carteira
Cadeira imunda, jaula vagabunda, controle de segunda à sexta-feira
O futuro vira só resto de tudo que o mundo propôs
E não há acordo protesto, por que o nosso povo compôs
Os pais se opõe ninguém se impõe à revolução torta e lenta
Por isso eles vão sonhar e brincar aos trinta de idade e ainda aos quarenta
Eles querem correr, querem crescer
Poder pegar os doces no alto da prateleira
São iguais a você, iguais a mim
Inocência mirim, a minha causa primeira
Criança absorve o que há no entorno, assimila o que há de vantagem
Miséria de grana menos que virtude ferra a saúde da auto-imagem
Até que não haja a auto avaliação do que fomos e somos
Mas se o presente fala do passado do que você acha que nós somos donos?
O futuro é tão ilusório também não tem nada a ver com destino
Mas só que cultura são fios de náilon movendo as tralhas de tanto menino e menina
A vida ensina, mas que qualquer professor
Que fala de história mas o aluno cria uma de dominado e dominador
E isso não é fardo de preto, pardo, sem pai
Cada grito escutado não vai
É uma ficha que uma hora cai
Pro molde de quem chuta o balde
Quando sai da forma se esbalda
O resto é só adereço
Começa no tempo da frauda
O governo põe sua melhor fraude perante gestante no primeiro instante
Ele faz parecer que agora é trabalho e que a escola será o bastante
Olhe para o mundo, olhe pra você la no fundo
Vejam quanta gente não realizada que amargam escolhas a cada segundo
E isso que quero evitar, saca?
Nessa laguna tem algo que ataca
Tem só oito anos de história sofrendo com o próprio fim numa maca
Mas creio na revolução, esses sonhadores conheço de cor
Pois sou como eles, nada sereno e faço dos pequenos minha causa maior
Eles querem correr, querem crescer
Poder pegar os doces no alto da prateleira
São iguais a você, iguais a mim
Inocência mirim, a minha causa primeira