Perdão Emília
Já tudo dorme, vem a noite em meio
A turva Lua surgindo além
Tudo é silêncio, só se vê na campa
Piar o mocho no cruel desdém
Depois um vulto de roupagem preta
No cemitério com vagar entrou
Junto ao sepulcro, se curvando ao meio
Com tristes frases nesta voz falou
Perdão, Emília, se roubei-te a vida
Se fui impuro, fui cruel, ousado
Perdão, Emília, se manchei teus lábios
Perdão, Emília, para um desgraçado
Monstro tirano, pra que vens agora
Lembrar-me as mágoas que por ti passei?
Lá nesse mundo em que vivi chorando
Desde esse instante em que te vi te amei
Chegou a hora de tomar vingança
Mas tu, ingrata, não terás perdão
Deus não perdoa as tuas culpas todas
Castigo justo tu terás, então
Perdi as flores da capela virgem
Cedi ao crime, que perdão não tinha
Mas, tu, manchaste minha vida honesta
Depois, zombaste da fraqueza minha
Ai, quantas vezes, a meus pés, curvado
Davas-me prova de teu puro amor
Quando eu julgava que tu fosses anjo
Não via ao fundo desse olhar traidor
Mas eis que um corpo resvalando a terra
Tombou, de chofre, sobre a terra fria
E quando a aurora despontou na lousa
Um corpo inerte a dormitar se via