Alma de Ferro
É um gosto que eu trago
Da campanha antiga
Que nas madrugadas
Do pago eu relembro
De pechar um touro
Em algum refugo
E florear ventenas
Por estes setembros
Minha alma inteira
Se formou com o tempo
Das cercas de pedra
Destes mangueirões
E nem que esse tempo
Me cobre o preço
Não troco estas pedras
Por alguns moirões
Por ter a querência
Qual marco de ferro
Eu fiz minha estampa
Assim retratada
Juntei três-marias
Do céu mais campeiro
Pra bolear um potro
Pela invernada
Talvez por pachola
Eu tapeie o chapéu
E faça o meu mundo
Assim como eu quero
Levar no meu poncho
Um rumo pros ventos
E na estrela da espora
Minha alma de ferro
Minuano velho
Se chega guapeando
Desabo meu poncho
Pra matar a inveja
Numa noite grande
De ronda e de tropa
Parece bandeira
Contra a ventania
Vez em quando
O tempo me faz reculuta
Pois me vem a vida
Desses pajonais
E me vejo quieto
Imitando um sorriso
Que herdei da moldura
Dos meus ancestrais