Romance do Espinho Brabo (part. Ângelo Franco)
Um espinho, moço novo
Morador da japecanga
Se apaixonou sem querer
Por uma flor de pitanga
Já tinha, antes do inverno
Trocado olhares de fato
Com outra flor de aroeira
Da mesma costa de mato
Teve uma vez que encantou-se
Numa flor de corticeira
Mas ela nem deu adeus
E foi-se na corredeira
Se foi rastro do arroio
Que dividia as barrancas
Ficou, de um lado o espinho
Do outro, a florzita branca
Uma vez, meio de ponta
Por voltas que a vida faz
Atacou um boi pampa alçado
Com pose de capataz
Ali, na boca do mato
Onde sempre se enredou
O, sentindo a pua
Deu cara-volta e voltou
Lhe chamam espinho brabo
Pois não lhe conhecem bem
Já foi a farpa do arame
E a ponta que a espora tem
Sabe quem nunca, na vida
Vai deixar de ser espinho
Por causa dos seus açoites
Tem medo de ser sozinho
Flor de pitanga bonita
Um dia vai ficar doce
Mas ele sonha um romance
Como se possível fosse
Por ser do mato se esconde
Do amor contido, não conta
Não sabe, assim, ter carinhos
Por ser espinho, tem ponta
O espinho rasgou o pala
De um campeiro de cruzada
E guardou a lã, pra sempre
Na sua ponta afiada
Pra acenar despedidas
Pro vento que lhe alvorota
Pois pensou em ir-se embora
Cravado num pé de bota!