No Invernadão Das Poliangas

Rogerio Villagran

Fui eu que tapei de grito bem na costa do banhado
E vim cachorreando o gado junto a cerca da divisa
Clareava o dia e eu de a cavalo
Sei que a perca deste embalo faz falta pra quem precisa

Clareia o dia, no grito que firma a goela
Do peão da estância que buscava a volta dos fundos
Até o sereno das macegas se levanta
E o Sol troteiro sai da timba e vem pro mundo

Costeio a sanga e cruzo no passo do meio
Contemplo a calma da manhã que se arremanga
Um touro berra logo abaixo do saleiro
Qual fosse o dono do invernadão das poleangas

Estendo a vista e bombeio de ponta a ponta
Sigo ao tranquito enquanto a lida encordoa
Meto o cavalo num lote que ainda remancha
Gramiando quieto no costado da lagoa
Meto o cavalo num lote que ainda remancha
Gramiando quieto no costado da lagoa

Por isso abro meu peito e balanceio meu mouro
E levo por desaforo se ficar algum nas macegas
Sou peão de estância respeito a forma
A onde se enfrena as normas que o grito de bamo entrega

Sou peão de campo conheço bem o compasso
E não refugo quanto a volta se abaguala
Não é brinquedo lida com gado de cria
Onde o campeiro cura a bicheira e assinala

Mas pra este oficio fui parido e não me achico
Pois acredito que esse seja o meu destino
E andar no mundo empurrando algum fiador
E tirando balda de algum metido a malino

Sei que o meu mundo se resume a esse anseio
Que se destapa quando a manhã se arremanga
Mas me acho livre igual ao berro do touro
Que ecoa longe no invernadão das poleangas

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