Toco de Vela
Morena, só peço um beijo
Só o silêncio e nada mais
Ansiei e ganhei um mundo
Que o mundo deixa lá atrás
Floreio, dor nas bordonas, bombeando pra lamparina
Se a lembrança sangra as horas pelo sonho que alucina
Que a luz que acendi, por mansa, ante à voz da inspiração
Comparou sua própria cena com as cenas de um coração!
Foi uma chama incontida, num toco gasto de vela
Feito lonjuras nascendo pra prisões de uma janela
Foi uma história indelével, presenciando o próprio fim
Clareando futuros tantos que eu sei que nem são pra mim!
Morena, só peço um beijo
Só o silêncio e nada mais
Ansiei e ganhei um mundo
Que o mundo deixa lá atrás
É doer antes das dores, é sangrar antes do corte
Não sorver destes momentos, que querem calar da morte
É fogo e tempo escasseando, queimando vela e pavio
Feito a ampulheta escorrendo, um castelo que já ruiu!
E a chama consome a cera, pintando rastros no toco
Onde a guitarra, insistente, me diz que só resta um pouco
Eu que era um viramundo, criei raízes sonhadas
Mas tombei flores e cerno por outra alma da estrada!
Despedidas inventadas um dia serão abraços
O aço, mais reforçado, se romperá em mil pedaços!
A estrada arranja as histórias, muito mais que o próprio fim
São paisagens que interessam pra um dia falar de mim!
E quem sabe o tempo apague o próprio pavio da lembrança
Ou pulse vivo, correndo, como artéria pras andanças!
Ilustrei o meu destino pra depois borrar da tela
Como pode tanta chama num toco, pouco, de vela?
Morena, só peço um beijo
Só o silêncio e nada mais
Ansiei e ganhei um mundo
Que o mundo deixa lá atrás