Que Nem Dois Irmãos
Ele tem raiva guardada
Desde o meu primeiro afago
Que lhe espatifei dum pealo
E lhe saquei os dois bago!
Por isso, sempre que pode
Não me desvia um pisão
E eu lhe encaroço as virilha
Pra devolver a afeição!
Anda sempre me tenteando
Pra me arrancar um pedaço
Num coice, numa mordida
Ou mesmo num manotaço
É um amor correspondido
Não é da boca pra fora
Então lhe faço um carinho
Com os sete dentes da espora!
Eu e o meu cavalo zaino semo
Que nem dois irmão!
No fundo nós se gostemo
Mas não tem demonstração!
Me enxerga e murcha as orêia
Num relho já dou de mão
E o galpão véio da encilha
Quase botemo pro chão
Eu e o meu cavalo Zaino
Cursamos a mesma escola
Um dia atraquei urtiga
Debaixo da sua cola
Ele entrou na brincadeira
Quando me viu sorridente
E me presenteou um coice
Que me arrancou quatro dente!
Trato bem cavalo manso
Mas com maula não me encolho
Falo a língua do beiçudo
Que mostra o branco do olho!
Um não tem mágoa do outro
Pra nós é tudo normal
Só não sei, dos dois parceiros
Qual é o mais irracional!