Dia Não
Acordei, era domingo
Saltei da cama contente
Nas torneiras nem um pingo
Nem nas tomadas corrente
Quis fugir à barulheira
Do vizinho c’oas mudanças
Na escada, a minha porteira
Deu-me um postal das finanças
Dia não é dia não
Tentei comer descansada
Na tasca da minha rua
A carne vinha queimada
A batata vinha crua
Depois fui ao Corte Inglês
Para assistir à sessão
Era um filme japonês
Legendado em alemão
Dia não é dia não
Passeando à beira rio
Apeteceu-me ouvir fado
Fui à tasca do vadio
O Chico tinha faltado
Era tal a ganideira
Quis fugir mas ao pagar
Dei por falta da carteira
Inda tive de cantar
Dia não é dia não
Saí com um grão na asa
Uma nódoa no casaco
Perdi as chaves de casa
Acabou-se-me o tabaco
Deitando contas à vida
Comecei a andar a pé
Atravessei distraída
Fui parar a S. José
Dia não é dia não
Por ter uma mão dorida
Fiquei três horas na bicha
E quando fui atendida
Houve um engano na ficha
Acordei na enfermaria
Alguém disse com voz terna
Correu bem a cirurgia
Engessámos-lhe uma perna
Dia não é dia não
Em descanso finalmente
Pensei ao ver-me em pijama
Ele há dias em que a gente
Não deve sair da cama
Dia não é dia não