Corvos, Urubus e a UDR

Alexandre Bolinho

Não há o que fazer, então eu vou sentar e vou me esparramar
Sobre os meus feitos e orgulhos, e vitórias
Todo o egoísmo, toda a violência, toda exclusão, toda opressão
da qual fiz parte, preponderante!


Então me resta cercar de grades e deitar sobre os ossos dos mortos
E deleitar o sangue quente que ainda escorre da terra
Que é o fruto e resultado de nossos feitos genocidas
E das vidas que se foram
Lutando


Dormir e acordar, viver e trabalhar
Horas em movimento e um dia a dia sem sol (sem sol!)
Cercado de idiotas que são quase espelhos
E refletem a imagem que vivemos renegando, familiar


Então me resta cercar de grades e deitar sobre os ossos dos mortos
E deleitar o sangue quente que ainda escorre dos morros
Que é o fruto e resultado do silêncio genocida
E das vidas que se foram
Lutando


35 milhões de companheiros abaixo da linha de pobreza
60% da renda e da terra nas mãos de menos de 1 milhão e meio
Centenas de mortes nos campos, chacinas urbanas, desaparecidos
Transformando a vida em show de TV
Em estatísticas


Então me resta cercar de grades e deitar sobre os ossos dos mortos
E deleitar o sangue quente que ainda escorre dos morros
Que é o fruto e resultado do silêncio genocida
E das vidas que se foram
Lutando.

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