Don Blanco

Lisandro Amaral

O grito de "venha boi" perdeu-se na poeira dos tempos...
Os fletes já não pisam a baba dos tambeiros pelas estradas polvorentas de saudade
Nem um sincero sequer faz contraponto aos rangidos de bastos e relinchos de tropilhas
E muitos lombilhos gastos, hoje encilham cavaletes em quartos pobres de vilas, potreiros do nunca mais, pra aonde o bendito progresso apartou os gaúchos de ontem!

Garrão de potro sovado de nazarena, Um pala gasto que ajeitou de chiripá
Garrucha antiga, companheira da prateada,
Alma encordoada rumo às "criollas de allá"

Couro ponteado, frente de rastra argentina
Pança de burro a recordar um Martín Fierro
Que é realidade no banhado do Minuano
Rincão pampiano no compasso da cincerro

Teu idioma já fundiu resto de estrada
Pelas potreadas que te oferta o dia a dia,
"Criollo" antigo, desafiando "las tropillas"
És Minga Blanco, de Aceguá à Jesús María

Reencarnado aquele zaino que enforquilhas
Rompeu a soga de um poema de Aureliano,
Sonou a venta, trouxe um chasque na crineira
No hay fronteras para ser fiel hermano

Deixa que venha companheiro essa potrada
Índio minuano mete um pealo e senta as garras
Tu gineteia, eu fecho um verso campo a fora
Enquanto a espora dá o compasso pra guitarra.

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