Um Itinerário de Esperança
começar pelas coisas mais comuns:
sair de casa, olhar as nuvens, insetos
a chuva, as árvores, as formigas
olhar o sol da tarde, a tarde em si
caminhar pela rua, sentir a brisa
discursando pelas ramagens azuis
pelas folhas tão verdes do verão
os bichos pelo caminho: o gato, o cão
aprender o idioma dos gatos e dos cães
continuar caminhando pela tarde –
ou pela manhã se for então manhã
olhar as pessoas nos olhos, cada uma
como são seus rostos e o que o tempo
foi deixando em cada uma delas
se chegar a uma praça, um jardim
sentar-se ali num banco ou na terra
as flores são pessoas que aprenderam a sorrir
as formigas são deuses acessíveis
bem ao alcance de quaisquer mãos
parar diante de um lago sereno
ou de um riacho ocupado demais
espalhando a pura vida ao redor
deixar que a água molhe tuas mãos
ou menos deixa que molhe tua alma
observar os casais passando abraçados
as crianças brincando nos parques
e descobrindo a vida, metro a metro
segundo por segundo, passo a passo
depois guardar-se um pouco dentro de si mesmo
digerir tudo: a beleza de tudo que viste
e habitar-te em teu silêncio
depois voltar por onde vieste
e verás como nada pelo caminho é o mesmo
- nem tu mesmo