Prólogo

Eu quero a palavra que rasga a orelha do livro
Palavra que finca bandeira no tronco da história
Na dobra da esfera
Palavra que dura e supera a agonia do agora
Por fora do esquema
Palavra que queima a revanche, destrói as correntes
E quebra o dilema
E não se amedrontará

Quero a palavra que move a engrenagem do tempo
Que cria memória
Palavra que empurra a canoa e alimenta a fogueira
Que limpa a sujeira
Palavra que brota da boca de um santo guerreiro
E varre a maldade
Palavra que escreve esperança no céu da cidade
Vibrando na nova era

Palavra que ri no silêncio do gato
Que canta uma reza na água da cachoeira
Palavra que é planta no meio do mato
E que reverbera a beleza

Quero a palavra que veste uma capa de estrelas
Que preste pras curas
Palavra que acende figuras no céu da caverna
Que é mãe do poema
Palavra que é Sol e cinema, que é filha das luzes
Maior do que as cruzes
E sílaba a sílaba a fala será feito ilha
Deserta do que é ruim

Quero a palavra que cala em respeito ao silêncio
Que serve o que vibra no alto
Por baixo das águas, por cima das nuvens
E é só gentileza
Partilha do pão sobre a mesa, do céu sobre os ombros
Que vence os escombros
Palavra que brota do corpo feito tatuagem
E ensina o que é coragem

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