Cão
Lembro como se fosse ontem, seus olhos sobre os meus
Uma montanha russa feita com os erros de Deus
A vida me deu pólvora sabor flã
E seu colo igual minha cama, numa segunda de manhã
Fez a textura dos seus lábios, cerol e framboesa
E seus suspiros vírgulas, que em frases matam minhas certezas
Assassino por natureza, o ódio sabe nosso nome
E é lindo como o seu soa junto ao meu sobrenome
Seu toque é pedra pomes em cortes de bisturi
E o nosso encontro é o suicídio mais doce que eu já vi
Fui seu Cassiano, te fiz minha Rita Lee
E nosso beijo salada mista era chumbo e chantilly
Um crime passional, o rádio que cai numa hidro
Um abatedouro com paredes feitas de vidro
É minha falsa segurança, o filtro do meu Malboro
O papa falando em pobreza sentado num trono de ouro
Meu bem, meu tesouro, hoje é guizo cascavel
Nossas brigas são sarais numa torre de babel
Sua voz é meu céu, mas Deus é testemunha
Quando te ouço sinto agulhas entrarem embaixo da minha unha
Feitos um para o outro, pra mim não dá mais
Nosso romance é um elefante numa loja de cristais
Eu te amo demais, mas hoje consigo entender
Que eu só vou ter paz quando tiver longe de você
Ver você e não poder te tocar
É viver sem nem saber o que é amar
Não quis perder, mas precisei te deixar
Pois eu cansei de sofrer e não quero te machucar
Eu sou uma arma, cuspo farpas numa prece oca
Derreto a realidade igual açúcar na minha boca
Triste como cruz de estrada, amor cínico
Espalho teus sonhos numa parede nas cores de vinho químico
Você é uma bala, adoro como você canta,
É quase Aretha Franklin com câncer de garganta
Santa como a inquisição, a guerra em quebra luz
O Pai Nosso por Charles Manson, enquanto a Klan queimava a cruz
Doces de alcaçuz, drinks de chorume
Rindo alto até os anjos pedirem pra abaixar o volume
Over de lança perfume em madrugadas juvenis
Onde universos colidiam ao som de nossos quadris
Eterna miss Saravejo, seu psiu é um gatilho
Costuro o silêncio na boca das mães que perderam os filhos
O brilho do seu sorriso faz do flerte um tiroteio
Você é um sonho de valsa com uma vespa de recheio
Nossa transa é loucura, coisa de pele
Deixamos marcas de amor em lençóis do IML
Chernobyl madamoisele traz o luto na tez
E faz do espaço entre seus lábios um corredor polonês
A gente junto estupidez, acabou o encanto
Nossos mimos e carinhos se transformaram em quebranto
Cada um pro seu canto e hoje eu me pergunto a esmo
Nos livrai-nos do mal seria nos livrai-nos de nós mesmos!??
Ver você e não poder te tocar
É viver sem nem saber o que é amar
Não quis perder mas precisei te deixar
Pois eu cansei de sofrer e não quero te machucar.
Porque no final das contas
Amar é quase como dar uma arma na mão de quem você ama
Essa pessoa vai ter o poder de te fazer sofrer a hora que ela quiser
Eu dei a você uma arma
E se você sente a mesma coisa que eu sinto por você
Troque as balas por beijos
Porque se um for morrer pelo outro, que seja de amor e só por amor