Sonho de Barro
Lá fora tinha um barreiro,
Que cantava o dia inteiro
Bem no moirão da porteira...
Com o barro no biquinho,
Construiu seu próprio ninho
p`ra morar com a companheira.
Lá da estrada carreteira,
Veio uma pedra certeira
E a casinha foi p`ra o chão...
No galho do marmeleiro
Um casal de Jõao-barreiro
Chorou sem consolação.
E aquele sonho de barro
Se esvaiu como um cigarro
Entre a cinza e a fumaça...
Assim o João arquiteto
Virou um menino sem teto,
Desses que moram na praça.
O barreiro bateu asas,
Revoou por sobre as casas,
Em longas horas de insônia...
Buscou otra trajetória,
Quais as áves migratórias,
Que chegam da Patagônia.
Hoje lá na carreteira
Um silêncio na porteira,
Vai sufocando destinos...
E o Homem que tudo arrasa
Só tem os restos da casa
Do construtor campesino.