3 da Madrugada
Três da madruga, insônia não ajuda
Saio sobre os olhos da vizinha pescoçuda
Tô na rua, sozinho no volante
Meu semblante tá sinistro, bem melhor do que antes
Solto a embreagem, vou que vou, tô na estrada
Peço proteção pra me livrar de quem me roga praga
Deus que sabe quanto vale a minha alma
Eu jogo a seta, meto a quarta, aumento o som e mantenho a calma
No rolé, de migué, sem destino
O vento vem na cara enquanto a cabeça vai refletindo
Vou seguindo, ouvindo meu hino
De guerra com olho grande, tipo flamenguista e vascaíno
Tô na paz, com a mente sem maldade
Vou subir a colina que tem baile rolando até mais tarde
Corto a cidade à procura de uma cura
Que anule do meu coco a minha noite que não tá escura
Sinal fechado, um carro para ao lado
Um Golf rebaixado com para-brisa estourado
Uns quatros caras ou mais, sem ter cara de paz
Olhos vermelhos me olhavam e olhavam pra trás
Me liguei, mas não me intimidei
O piloto fez sinal de tá tranquilo, então me adiantei
Ficou pra trás, (foi) virou passado
Eu acelero, passo a quinta, que por Deus eu tô sendo guiado
Rua escura com pouca iluminação
Vejo um comboio vindo em minha direção
Se lombrar vou perder, correr pra onde?
Foi se aproximando, eu descobrir que é um bonde
Com bicos para o alto, tomando o asfalto
Será que é cobrança, sequestro, assalto?
Sei lá, não me interessa, eu também tenho pressa
Dei um toque no farol, atravesso e continuo a fuga
Seja protegida iluminada, madruga
O telefone toca, será que é alguém que aluga
Só vou saber se eu atender
Seja quem for, só não tire o meu lazer
Alô?
Sou eu que tô ligando, só pra te dar um papo
Que o baile você tá indo hoje, tá lombrado
O morro tá tomado, melhor você voltar
Que tá rolando uma festinha na pracinha do lado de cá
Tá você e quem?
Tô eu e aquela mina
Que eu tinha te tocado que ia botar na sua fita
Pode vir no sapato, não precisa correr
Que o caô aqui na praça vai rolar até o amanhecer
Vou te aguardar, tô bebendo uma gelada
Só vou voltar pra casa, depois da madrugada
Já é! Vou desligar que tem uma blitz na minha frente
Vou tirar meu boné e fazer cara de inocente
Acendo a luz do salão, é dura da PM
Não devo nada, mas não sei porque minha perna treme
Abaixo o farol, viaturas eu cruzo
Documento tá no bolso, abaixo o som, reduzo
Fico escaldado, sim, tenho a sensação do fim
Só que desta vez foi diferente, nem olharam pra mim
Me benzi, sorri, passei batido
Boto fogo no asfalto, meu rolé ainda não tá perdido
Troco o CD, dou um grau no volume
Jogo o cotovelo para fora como de costume
No viaduto, caminho vou cortando
O céu tá clareando, o dia vem raiando
O galo tá cantando, da pracinha vou me aproximando
Pessoas vão saindo enquanto eu vou chegando
Os raios do Sol atrapalham minha visão
Mas vejo que a praça tá vazia, só tem garrafa no chão
Cheguei agora, todo mundo indo embora
Viajei no caminho que até me esqueci da hora
Vou meter o pé, abandonar o recinto
Também que horas são, hein?
(Sete e quarenta e cinco)