Cantoria

Virgilio dos Santos

Hoje não tem cantoria não
A senzala tá toda trancada
Falaram de um nego fujão
Se embrenhou lá no meio da mata
Passou pelo ribeirão
O ódio do feitor cresceu
Capoeira tá pegando fogo
A esperança perdida no breu


Nego no canto da noite
Reza pro seu orixá
Pra resistir todo açoite
A fé nunca pode falhar


Okê Aro Mutalambo
A flecha que Orun mandou
A fé nunca pode falhar
As mãos nunca podem tremer
A perna não vai bambear
No meio da mata eu vou me perder


A cabeça não pode girar
O cheiro não pode feder
O rastro não pode ficar
No meio da mata


Samambaia, coité, pai João
Ofá tá erguido na mão
Meus olhos nunca vão fechar
Algema não vai me prender
Pro tronco nunca vou voltar
No meio da mata eu vou me esconder


Santo Antônio vai vir me ajudar
São Jorge vai me proteger
Santa Bárbara vai clarear
No meio da mata

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