Paupixuna

Paulo André Barata

Uma cantiga de amor se mexendo
Uma tapúia no porto a cantar
Um pedacinho de lua nascendo
Uma cachaça de papó pro ar

Um não sei quê de saudade doendo
Uma saudade sem tempo ou lugar
Uma saudade querendo, querendo
Querendo ir e querendo ficar

Uma lera, uma esteira, uma beira de rio
Um cavalo no pasto, uma égua no cio
Um princípio de noite, um caminho vazio
Uma lera, uma esteira, uma beira de rio

E, no silêncio, uma folha caída
Uma batida de remo a passar
Um candeeiro de manga comprida
Um cheiro bom de peixada no ar

Uma pimenta no prato espremida
Outra lambada depois do jantar
Uma viola de corda curtida
Nesta sofrida sofréscia de amar

Uma lera, uma esteira, uma beira de rio
Um cavalo no pasto, uma égua no cio
Um princípio de noite, um caminho vazio
Uma lera, uma esteira, uma beira de rio

E o vento espalhado na capoeira
A lua na cuia do bamburral
A vaca mugindo lá na porteira
E o macho fungando cá no curral

O tempo tem tempo de tempo ser
O tempo tem tempo de tempo dar
Ao tempo da noite que vai correr
Ao tempo do dia que vai chegar

Uma lera, uma esteira, uma beira de rio
Um cavalo no pasto, uma égua no cio
Um princípio de noite, um caminho vazio
Uma lera, uma esteira, uma beira de rio

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