Não Dá

Paulo Gonzo

Guardo as asas devagar
Puxo o tempo para trás
E ele nunca quer saber
Porque os dias vão em frente
E os ponteiros presos na corrente
Deixam-nos sempre à mercê
De um comboio louco sem travôes
De um rio em várias direções
Avança sempre sem cessar

Eu só queria ter-te um pouco mais comigo
Que o relógio não virasse mais o livro
Mas não dá, não dá
Porque o tempo passa sem deixar vestígio
E eu tento-me deixar ficar no sítio
Mas não dá, não dá
Vais correndo o olhar
E a saudade tão voraz
Faz-me desaparecer
Mas tu voltas lentamente
Na memória de quem te quis sempre
Eu levanto-me outra vez

Mas só queria ter-te um pouco mais comigo
Que o relógio não virasse mais o livro
Mas não dá, não dá
Porque o tempo passa sem deixar vestígio
E eu tento-me deixar ficar no sítio
Mas não dá, não dá
Então aceito a sorte
De te ter no passado
Aceito a sorte
De te ter encontrado

Mas só queria ter-te um pouco mais comigo
Que o relógio não virasse mais o livro
Mas não dá, não dá
Porque o tempo passa sem deixar vestígio
E eu tento-me deixar ficar no sítio
Mas não dá, não dá

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