De Tempos Em Tempos

De tempos em tempos com ventos a moda gira
Tornando a verdade de hoje amanhã pura mentira
De tempos em tempos essa fé também varia
Quando falavas com Deus e ele não te respondia
Houve um tempo de respeito e de reconhecimento
Perseguido pelo egoísmo e empobrecimento
Noutro tempo ser real, era original e único
Não contavam vendas nem muito ou pouco publico
Era só um puto novo que venerava os mais velhos
Os putos de hoje sabem tudo, não querem ouvir conselhos
Dou treinos a recrutas, em tempos também fui um
A escrever horas a fio, muitas vezes em jejum
Preparado para a longa caminhada, malas as costas
Raros serão os que terão direito a propostas
Homem das cavernas nestas relações modernas
Entre miúdas levianas e jovens ocos palermas
Influencias externas tornam-te flutuante
Viver da aparência é bastante desinteressante
Quantos ficaram pelo caminho sedimentando este forte
Para que a chama continue acesa de sul a norte
De tempos a tempos a família grande diminui
Tornei-me dez vezes mais frio do que o homem que já fui
Minhas ilusões internas, falta de figuras paternas
O limite do tempo é algo que por dentro me possui

(Quando mudar o vento cairás no esquecimento
Pois nesta vida é tudo uma questão de tempo
Sem arrependimento abri o meu sustento
Pois num dia cinzento chegará o momento)

Quando o tempo pergunta ao tempo quanto tempo o tempo tem
É porque nem sequer o tempo sabe o tempo que aí vem
Porque os tempos eram outros, o amor era indescritível
Quem o fazia tinha valor, quem o amava grande nível
Era cultura única, na rua não havia canudo
Era formação mais pura com microfone tinha tudo
Veio a moda, foi a foda, a tropa dividiu-se em partes
Já nem parece uma só arte, parecem partes de outras artes
Surgiram os vampiros, sugaram a nossa fonte
Só criaram conflitos, agora põem-se a monte
Que conte quem viu, ficou, sentiu, nunca fugiu
As mudanças deste hip-hop amor ficou e resistiu
Não suporto ingratos, hipócritas sorridentes
Só suporto e abro a porta a quem nos suporta de unhas e dentes
Mentes captas em vez de mestre de cerimónias estes
Isto não é para qualquer um, é para guerreiros MC's

(Quando mudar o vento cairás no esquecimento
Pois nesta vida é tudo uma questão de tempo
Sem arrependimento abri o meu sustento
Pois num dia cinzento chegará o momento)

Só ficou o saber empírico ao saírem os artifícios
Passaram séculos, sabemos menos que os egípcios
Vivemos a produzir para um chefe que nunca vimos
No zoo domesticados, enjaulados como felinos
Comemos tudo o que nos dão sem opção ou critério
Enquanto a razão do universo continua um mistério
Ciências geram vírus e antídotos lucrativos
A riqueza sobe ao ritmo da taxa de suicídios
Heróis surgem no ecrã como deuses na antiga Grécia
Mitos, feitos longínquos ocupam a nossa inércia
Somos feitos de quê? Somos feitos por quem?
A dúvida será eterna como a utópica Jerusalém
De tempos a tempos unimo-nos, fingimos sermos iguais
Mas a diferença era a riqueza na altura dos ancestrais
O motivo muda mas a guerra impera em qualquer época
Os valores manter-se-ao por muito que passe a década

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