Terceira Terra
Mba'éichapa!
Eu cheguei de ygaratá
Sigo as raízes dos rios
Ando desbelotado
Pela América do Sul
Contemplo os mares de Jaci
E as curvas de Iara
Que um bando atravessou
Cego da sede dos reis
E de um Deus de cavalo
Seus efeitos morais
Soam sobre o Rio Maracanã
Como Tupã-beraba
No meio do toró
Entoando a queda do céu
Na segunda terra
Invenção de Ñanderu
Nada se move sem atrito
A aldeia usurpada
Na fome do seu chão
Saiba que não passarão
Seus patrões, cacicados
Barões de plantação
Da nossa armada sem navios
E do Deus que é neblina
Que se inala pra sonhar
Bruma de Jakhairá
E os profetas selvagens
Nas ruas a bradar
Música das nossas utopias
Mas há de vir um canto
Pelos ventos do devir
Ocaso de Karay
Rimado nas pedras
Do caminho de Sumé
Rastro de Tapé Porã
Num dia estrelado
Cantado em Nheengatu
Rasgando o ar como um blues
Desdobrado em si mesmo
E em cada um de nós
Que sonham mundos descabidos
No poder da palavra
Ser aquilo que se é
Rumo à morada sem mal