A Carlos Drummond de Andrade
Não há guarda-chuva
Contra o poema
Subindo de regiões onde tudo é surpresa
Como uma flor mesmo num canteiro.
Não há guarda-chuva
Contra o amor
Que mastiga e cospe como qualquer boca,
Que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva
Contra o tédio:
O tédio das quatro paredes, das quatro
Estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva
Contra o mundo
Cada dia devorado nos jornais
Sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva
Contra o tempo,
Rio fluindo sob a casa, correnteza
Carregando os dias, os cabelos.