Na Espuma do Mate
NA ESPUMA DO MATE
Na espuma do meu mate, vejo o retrato da vida,
nessa jornada comprida, que o tempo deixou pra trás;
nas voltas que o mundo faz, sigo o rastro da lembrança,
até rever minha infância que foi e não volta mais.
Vejo piazito humilde, no pago onde fui criado,
saltando sanga e lageado, com a mochila a tira-cola;
livro e lousa na sacola; atirando de bodoque,
correndo e dando pinote, com meus colegas de escola.
Na espuma do meu mate, uma bolha simboliza,
eu, franzino, sem camisa, calça curta, pés no chão,
com a família no galpão, brincando e dando risada,
enquanto a Mãe, tão cansada, preparava a refeição.
Revivo o banho no rio, e a fieira de jundiá,
ouço o canto do sabiá, no galho da pitangueira,
olho o gado na mangueira, a junta de bois, o arado,
os palanques do alambrado e os varejões da porteira.
Depois me vejo mocito, lutando por um espaço,
caio tombo e me refaço, nos tropeços da cidade,
venço o luxo e a vaidade, com diploma, mudo a sina...
e dou a volta por cima, no seio da sociedade.
Na espuma do meu mate, vou desvendando magia,
transformando em poesia, o fruto da inspiração;
com a cuia firme na mão, e a mente presa no verso,
de repente, me desperto, com o ronco do chimarrão.
Então passo a comparar, o presente com o passado,
analiso o resultado, da trajetória que fiz,
um sentimento me diz, somando luta e vitória,
quando chegar minha hora, eu posso morrer feliz.