A Máquina de Escrever

Mãe, se eu morrer de um repentino mal
Vende meus bens, a bem dos meus credores
A fantasia de festivas cores que usei
No derradeiro carnaval

Vende esse rádio que ganhei de prêmio
Por um concurso num jornal do povo
E aquele terno novo ou quase novo
Com poucas manchas de café boêmio

Vende também meus óculos antigos
Que me davam ares inocentes
Não precisarei de suas lentes
Para enxergar os corações amigos

Sem ruído é mais provável que eu alcance o céu
Vou penetrar e então provar seu mel
No paraíso só preciso de um olhar
Sem teu sorriso, outro sorriso para me enganar

Mas poupa minha amiga de horas mortas
Com teclas bambas, minha máquina de peças tortas
Vende todas as grandes pequenezas
Que eram meu íntimo tesouro

Mas não ainda que ofereçam ouro
Mas não ainda que ofereçam ouro
Não vendas o meu filtro de tristezas

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