Planiceiro
Nasci, cresci planiceiro
Rasgando a pampa no meio
Apartando briga de touro
Num pelado de rodeio
Cantando toadas de ronda
Nas noites de pastoreio
Bombachita arremangada, chapéu curtido ao vento
Pincha, lenço a mia espalda
Esvoaçando contra o vento
Carroneira, espora grande
Poncho emalado nos tentos
Por isso, as vez me revolto
Com a falsa pacholice
E assim cada vez que canto
Aparto terneiro da mesmice
E deixo um grito de alerta
Retumbando na planice
Cada pedaço de pampa
Abraço como a bandeira
Carrego pátria nas veia
Sangue de luz guitarreira
Enfeito a alma da terra
Com essa voz planiceira
Meu canto é cerne de lei
De pau ferro que não símbra
Repinga domas de trevais
Cheiro de china e tarimba
Um encanto de guri que pesca lua em cacimba
Meu canto é cantil de canha
Que isala, mal tiro a tampa
Gosto de um bagual crioulo
Troteando entre o céu e a pampa
E ouvindo argola do laço
Retinindo ao pé da guampa
Com sóis e estrala nos olhos
O meu mouro coscovero
Leva um trovão em cada pata
E no lombo um Martín Fierro
Que nasceu na pampa grande
E gosta de ser planiceiro