Homem Sem Futuro

Mano Gueto

Na maloca da favela da grande periferia
À um Homem sem Futuro em meio a grande maioria
Não sabia se chorava ou se sorria
Na merda de viver a mesma coisa todo o dia

Segunda-feira nego ia trabalhar
Cata lixo pela a rua é a maneira de almoçar
Sozinho sem ninguém por ele ter
Na maneira mais difícil pra tentar sobreviver

Sem te o que fazer sem nada pra comer
Em meio a cachorrada da calçada e você
Aonde estaria no momento
De um Homem se Futuro aprisionado ao sofrimento

Perambulando pelas ruas no frio da madrugada
Se encerrava uma segunda como outra sem nada
Amanhece é Terça-feira o primeiro a fazer
Sai revira lixo acha algo pra comer

Chega na feira e pede a tia do barraco
Qualquer coisa que alimente pois já anda muito fraco
Com ambição e maldade no olhar
Ela o xinga moralmente e o manda ir trabalhar

De cabeça baixa, ele sai sem responder
De barraco em barraco vai pedindo o que comer
Um tio que aparentava ser bom de coração
Deu-lhe um alface um tomate e um pão

Agradecido ele vai rumo a Praça Esporte
De repente para um cara de lupa num Escort
Dispara cinco tiros que acertam uma mina
Ele sai correndo e se depara com a polícia

Conta o que ocorrera ao policial que não dá bola
O outro olha pra ele da risada e o ignora
A cena que relembra no silêncio do escuro
O que se passa na mente de um Homem se Futuro

Vai nessa estrada, vai nessa estrada
Pelas ruas a pé, Deus não muda você

Chega quarta-feira de uma noite incomodável
O banco da praça não foi muito confortável
Conheceu um cara que tentou induzi-lo
No caminho que seguia com drogas envolvido

Sem conhecer ele foi sem saber
Sem ter o que dizer sem nada a perder
Para ele era um mundo diferente
Pega aqui larga ali tudo tão rapidamente
De repente distraído foi pego e espancado
Pelos mesmos que o levaram pelos mesmos que o drogaram

A noite chega e sem muita correria
O que só conseguiu foi dois pão na padaria
Encolhido, escorado em uma galeria
No centrão no friozão pensando no outro dia

Amanhece, é quinta-feira, sem disposição
As dores tomam conta da surra que levou
A esmola garante sua comida
Quer sair quer tentar quer vive outra vida

Foi rever pra volta pra maloca em que vivia
Toda quebrada toda destruída
Reencontrou velhos amigos na mesma situação
Jogado na rua no loco mundão

Desesperado sem ter pra onde ir
Deitou-se na calçada e começou a dormir
Sem nenhum objetivo sem nada na cabeça
Só como garantir a sua sobrevivência

Que foi perdida e destruída
Pelo dia dia as opções tomadas na vida
Os caminhos que o levaram a lugares obscuros
Isso é o que o torna o Homem se Futuro

Vai nessa estrada, vai nessa estrada
Pelas ruas a pé, Deus não muda você

Chega Sexta-feira de um cansaço total
Alumínio pra vender hoje é fundamental
Procurar latinha de cerveja pelos bares
No lixo ou na vala nos postos da cidade

Mendigo sem moral e velho na idade
Concorre com moleque e não tem prioridade
Separa, o alumínio dos metais
Vende e ganha só cinco reais

Com nada de comida que passou pela garganta
Esse é seu almoço seu café e sua janta
É surpreendido por uma gangue de punk
O estraçalharam o deixaram em último estado

Arrebentado ele vai parar na UTI
Graças a um cara que passava por ali
Resolveu o ajudar é um em um milhão
Que resolve dar apoio em tal situação
Tendo toda a assistência ficou sobrevivido
Mas se é pra voltar pras ruas preferia ter morrido

É Sábado e ele sai do Hospital
Relembrando da noite em que passou muito mal
Ele quer vingança e isso é normal
Pois o homem qual que seja quer ter sua moral

Mas será impossível sem força e amigo
Se estragar mais uma vez seria inconstituível
É sentado no degrau vendo o carro passar
Ou no banco da praça vendo a morte chegar

Ele sente que aproxima sem água e sem comida
É a morte que vem sigilosa e vingativa
No beco umedecido ali no escuro
Esse é o trágico fim do Homem sem Futuro

Domingo: É encontrado um homem morto
Num beco escuro e úmido em estado calamitoso

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