Caminho de Volta

A esquina, o coléginho
As porteira e o horizonte
O mata-burro, a ponte
E o rio cantando baixinho
Não me esqueço do caminho
Parece até que foi ontem

Que eu, piazote magro miúdo e de pouca fala
Retornava ao velho pago depois d'um ano de aula
Saudade ia comigo pesando o fundo da mala
Jamais não fosse meu pingo, poderia carregá-la

Cerro acima, continuava, volteava um capão sombreado
Até que o flete estaqueava frente um porteirão fechado
Apeava e investia contra, pois vinha apressado
A estronca que devolvia chiando o cambão pesado

Curioso, mas nunca pude enxergar nessa porteira
Apenas um marco rude de arame liso e madeira
Lembrava algo sagrado, um portal, uma fronteira
Sem aduana, era encadeirado, passe livre a vida inteira

Ali, num rancho de telha, cortina e flor na janela
Morava a tia mais velha, talvez, a mais doce delas
Mãos graúdas para os fundos, calos de roça e panela
Braços de abraçar o mundo tão chico perante ela

Acoava um cusco manco, outro rosnava em seguida
Em vão se meu bico branco seguia de orelha erguida
Poço, galpão e pomar, mangueira com barro ainda
Reconhecia o lugar d'outros tempos, d'outras vidas

Logo, os primeiros saludos viram riso, gargalhada
Gestos que dizem de um tudo sem uma palavra, nada

Que tal estão pelo povo? Já anda de namorada?
Lá dentro tem mate novo, me mostra o corpo da estrada!

Três quatro mate chegava pra que eu, de pouca fala
Entender se retornava, saudade pesando a mala
Miúdo, é verdade, e magro, não foi fácil carregá-la
Aprender no velho pago depois de um ano de aula

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