Navio Negreiro

Gladir Cabral

Cruzando o tempo, daqui se vê
Muito negreiro vendendo o quê?
Traz escondido em seu mal-querer
Áfricos, tráficos, vida e ser

Varando as ondas escuto a dor
Feito um lamento: Ai, meu Senhor!
Onde a razão trata do furor
Canta a vingança da clara cor

Por todo o mar, liberdade
Há muito tom de verdade
Cada lugar do oceano
Faz onda como desejar

Todo escravo é desejo a fim
De espaço aberto, de além de si
Vive na espera de ser feliz
Na volta à terra de seu país

Toda corrente é quimera só
De quem pretende guardar a nó
A força viva de um ser menor
À força, a vida de um ser melhor

Por todo o mar, liberdade
Há muito tom de verdade
Cada lugar do oceano
Faz onda como desejar

Todo negreiro é navio mercê
De muitas ondas, de outro querer
Quem prende alguém a qualquer dever
Torna-se escravo até sem saber

Quem é mais livre: Corrente ou pé?
Mordaça ou voz? Sombra ou luz, até?
Eis o silêncio; a resposta é
Livre é quem vive de fé em fé
Livre é quem vive de fé em fé!

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