Os Dias da Paz
Reginaldo Veloso
Mas será
Que em algum borralho uma brasa
Não arda por entre as cinzas
De sol?
Será que em algum monturo uma pena
Não bula entre os escombros
De ave?
Será
Que em algum porão uma réstea
Não brilhe por entre as trevas
De dia?
Alguém acreditou
Soprou as cinzas
E a brasa
Viva e insistente
Brilhou
O sol!
Alguém se aventurou
Vastou o entulho
E a pena
Tremelicante
Vibrou
A ave!
Alguém se arregaçou
Tirou a tampa
E a réstea
Fez-se torrente
Clareou
O dia!
E o homem se levanta do marasmo do seu medo
E as mãos se desentrevam e se juntam para a luta
E a terra reavida e repartida, semeada
Deu flor e fez-se fruto, pão e vinho para a festa
Ciranda, amor e sonho enchendo a noite
E amanheceu
O sol desperta a ave e acorda o dia
Bem te vi! Bem te vi! Bem te vi!
Aleluia! Aleluia!