Camionete Branca/ Doutor do Agronegócio (part. Paulinho Mocelin)
Não posso esquecer o ronco maldito
Da camionete branca que eu nem vi chegar
Tendeu da cachorrada festejando à volta
Em qualquer fim de tarde sem me avisar
Coração ferido cortado de esporas
Cercado de lembranças de rédeas no chão
Aqui nessa cabana tudo é saudade
O peão foi domado pela tal de paixão
Vou vender a fazenda, não quero mais saber
Mudar para bem longe, pra outro país
Eu vou vender meu gado, até os cavalos
Se não posso ter nos braços quem eu sempre quis
O pé de pinheiro que escreveu meu nome
Eu mandei derrubar e fiz uma fogueira
As chamas se propagam, mas a dor não passa
Enxergo o seu rosto em meio à fumaça
Lembranças que ficaram da última vez
Me amou e ainda fez eu acreditar
A camionete branca cruzou o mata-burro
Pra se perder no mundo e nunca mais voltar
Me para um carro que vinha ali do meu lado
Eu já tinha reparado pelo espelho lateral
Gente importante notei que ali transitava
Li nas iniciais da placa, doutor fulano de tal
Baixou o vidro achando que eu era tosco
Fazendo aquele alvoroço, música brega indecente
Onde se viu sujando o asfalto de barro
Coisa de peão relaxado, grosso e pouco inteligente
Mal sabia o cidadão que o meu patrimônio é grande
Estocado no porto seco de cuiabá e campo grande
Na exportação de grãos, domino e não tenho sócio
Sou caboclo conhecido, doutor do agronegócio
Abrindo a porta mostrei o bico da bota
Levando o olho se nota, suja de bosta de vaca
tá na guaiaca o poder que me da o direito
Pois não é nenhum defeito ser guasca e andar de bombacha
Além do mais doutor, já faz mais muitos anos
Que charolês, red ângus compõe meu lote de gado
Sobra os trocados que de quatro em quatro anos
Por farra vou financiando campanha de deputado
Mal sabia o cidadão que o meu patrimônio é grande
Estocado no porto seco de Cuiabá e campo grande
Na exportação de grãos, domino e não tenho sócio
Sou caboclo conhecido, doutor do agronegócio